Antonio Damasio
Há quem diga que o problema de saber como a consciência é construída pelo cérebro humano é demasiado complexo para ser resolvido... pelo cérebro humano.
O neurocientista português António Damásio — um dos mais brilhantes investigadores do mundo na área do cérebro — não concorda: a prova disso é que tem dedicado a sua vida ao estudo das bases biológicas da consciência e do papel das emoções na consciência, na tomada de decisão ou no sentido moral. Todas elas áreas que, até não há muito tempo, eram consideradas totalmente inacessíveis aos métodos da experimentação no laboratório.
Para António Damásio, coisas à partida tão distantes da ciência “dura” como a música ou as artes são na realidade indissociáveis da problemática das bases neurais da consciência: como explicar de outra forma de onde nos vem essa nossa tão natural capacidade de nos emocionarmos com uma peça de Bach, com uma paisagem — ou com o azul do mar?
Há muitos anos, António Damásio, hoje com 66 anos, emigrou de Portugal para os EUA — primeiro para o Iowa e mais tarde para a costa oeste, onde hoje dirige com a mulher, Hanna Damásio, o Brain and Creativity Institute, na Universidade da Califórnia do Sul (o nome do instituto é revelador).
Na sua passagem por Lisboa, no início deste mês, a Pública falou com ele sobre a teoria da consciência que apresenta no seu último livro, recentemente editado em Portugal — e também de como surgiu a sua paixão pelas neurociências, do dia-a-dia do seu trabalho, do seu gosto pela escrita e de muito mais.
O seu eu autobiográfico, para usarmos uma das suas expressões, conta que foi o historiador Joel Serrão, então seu professor, que lhe disse, um pouco