Anna Freud

SEMINÁRIO 4
ANNA FREUD, A ESCOLA DE VIENA E SEUS DESDOBRAMENTOS: REFERENCIAIS TEÓRICO-CLÍNICOS
1. A FASE PRELIMINAR DO TRATAMENTO

Anna Freud aponta algumas condições necessárias para que uma análise aconteça: a decisão voluntária, a consciência (insight) de enfermidade e a vontade de curar-se. Essas condições aparecem em um paciente adulto, mas em uma criança a situação é diferente. A decisão de submeter-se à análise parte dos pais da criança ou de outras pessoas que a cercam. Os sintomas afetam mais aos adultos que convivem com a criança do que ela mesma, assim, não há uma consciência de enfermidade. Portanto, falta no quadro clínico o que parece indispensável à análise.

Por meio de uma etapa preliminar, identificada como “período de preparação” e “treinamento para análise”, ou seja, ainda não é o tratamento propriamente dito, é um momento para criar as condições ideais para o começo de uma verdadeira análise. Um período para estabelecer a transferência e o diagnóstico. Este período durará o tempo que for necessário para a criança atingir a posição ideal, descrita anteriormente, para que se possa exercer uma influência analítica sobre ela.

A autora observa que nesse período preparatório deve ser criado um vínculo bastante forte entre analista e paciente para poder sustentar a análise. Ela nos relata o caso de um menino de dez anos atendido por ela:

...uma mistura obscura de várias ansiedades, estados nervosos, insinceridades e hábitos de perversidade infantil. Vários furtos de pouca importância e um furto mais sério haviam ocorrido em anos recentes. O conflito com seu ambiente familiar não era aberto nem consciente, e superficialmente qualquer percepção interna (insight) na estrutura da sua condição lamentável, ou qualquer pretensão de alterá-la, eram impossíveis de encontrar-se. [...] Minha atuação era antes a de um filme ou novela, que não apresentam ou intenção senão a de atrair a plateia ou o leitor [...]. Minha primeira finalidade era, na