Algumas questões sobre o transexualismo
Barbara Zenicola1
O presente trabalho traz para discussão o transexualismo assim como alguns temas que costumam ser associados a ele. Para isso, tomaremos o artigo “Travestismo, transexualismo, transgêneros: identificação e imitação”, de Simona Argentieri — publicado no Jornal de Psicanálise de São Paulo em dezembro de 2009— que localiza o transexualismo e o travestismo como sendo próprios da estrutura perversa, e os exemplifica através de dois casos: o de uma mulher em processo de transgenização e um caso de travestismo. A partir deste artigo, levantamos as seguintes questões: o que há de comum e em que diferem transexualismo e travestismo? A perversão é, de fato, a estrutura que os une? Nossos questionamentos basear-se-ão nas referências teóricas encontradas, fundamentalmente, nos textos de Freud e de Lacan.
O conceito de transexualismo foi criado pelo médico endocrinologista, doutor Harry Benjamin, a partir de seus estudos voltados às reivindicações de homens e mulheres, homossexuais e travestis, por tratamentos hormonais e cirúrgicos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o transexualismo é considerado um transtorno de identidade de gênero, onde o indivíduo se reconhece como sendo do gênero oposto ao seu biológico. Ainda no terreno da medicina, para diagnosticar o transtorno que designa o transexualismo, é necessário excluir a hipótese de psicose e de anormalidades intersexuais.
E a psicanálise, o que tem a dizer a esse respeito?
As concepções freudianas do inicio do século XX já haviam rompido com a vinculação da sexualidade como tendo a única finalidade biológica da reprodução, o que permitiu pensar de forma diferente as chamadas “patologias sexuais”, tais como inversões e perversões. Freud rompeu com os padrões morais que guiavam a ciência de sua época e mostrou que, para a psicanálise, a diferença dos sexos não é a diferença anatômica. O valor que Freud de fato conferiu à diferença