Africa - Nova Ordem Internacional
A África na ordem internacional do século XXI: mudanças epidérmicas ou ensaios de autonomia decisória?
África in the 21th century’s international order: epidermic changes or essays of decisory autonomy?
José Flávio Sombra Saraiva*
Rev. Bras. Polít. Int. 51 (1): 87-104 [2008]
Introdução
O objetivo do presente artigo é o de suscitar novos conceitos acerca do lugar da África na ordem internacional que se desenha no início do século XXI.1
Merecerão destaque as atuais formas de inserção internacional dos seus Estados nacionais, criadas de dentro para fora das soberanias africanas, bem como o envolvimento crescente de antigos e novos atores globais que participam, de forma interessada e crescente, na gestação do futuro daquele continente.2
A hipótese aqui examinada é a de que o continente africano assiste transição positiva para um novo patamar de inserção internacional no início do novo século. Três conceitos centrais alimentam o exame dessa hipótese: a) o avanço gradual dos processos de democratização dos regimes políticos e a contenção dos conflitos armados; b) o crescimento econômico associado à performances macroeconômicas satisfatórias e alicerçadas na responsabilidade fiscal e preocupação social; e c) a elevação da autoconfiança das elites por meio de novas formas de renascimentos culturais e políticos.
* Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília – iREL-UnB e diretor-geral do
Instituto Brasileiro de Relações Internacionais – IBRI (fsaraiva@unb.br).
1 Há nesse tópico duas linhas de interpretação que disputam hegemonia acadêmica acerca do novo papel da
África no sistema internacional pós-Guerra Fria. Os que advogam em favor da adaptação sem mudanças insistem na idéia de certa reforma epidérmica, quase apenas cosmética do continente ante os novos desafios internacionais.
Há a linha, na qual se inscreve este autor, que procura avaliar a hipótese de que há uma oportunidade de inserção
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