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910 palavras 4 páginas
Um acontecimento transformou a vida de Nicolau Maquiavel (1469-1527) em 1512. Com o retorno dos Médici a Florença, para comandar novamente a cidade que por seis décadas haviam dirigido (1434-1494), Maquiavel se viu, de um dia para o outro, afastado da vida pública. Foi preso, torturado, acusado injustamente de conspirar contra o novo governo, e só não foi executado graças à anistia concedida aos presos da cidade por ocasião dos festejos pela eleição de Giovanni de Médici para o papado (que adotou o nome de Leão X). De outro modo, é provável que não estivéssemos celebrando em 2013 o quinto centenário de O Príncipe.

Até esse momento, Maquiavel não tinha cogitado escrever tratados políticos (ou ao menos não manifestara essa intenção nas suas cartas preservadas). Os textos que redigiu no período em que trabalhou como secretário da República florentina, entre 1498 e 1512, eram relatos de suas viagens oficiais ou breves apontamentos sobre temas como “as coisas da Alemanha” e a “natureza dos franceses”. Somente quando se vê forçado ao ócio, em sua modesta residência na pequena cidade de Sant’Andrea, ele encontra motivação e tempo para obras de maior fôlego.

Em uma de suas cartas mais famosas, de 10 de dezembro de 1513, ele descreve a nova rotina ao amigo Francesco Vettori. Passa os dias na taverna jogando “cricca” e o “trique-traque”, dois jogos da época, e brigando “por um vintém”. “Em meio a esses piolhos”, ele escreve sobre seus companheiros de jogo: “extraio meu cérebro do mofo, e alivio a malvadez desta minha sorte, contente que ela me tenha rebaixado desta maneira, porque um dia poderá se envergonhar de ter feito isso”. À noite, quando volta para casa e entra em seu escritório, ele diz ser transportado para as “antigas cortes de antigos homens”, onde é “recebido amavelmente” pelos autores da Antiguidade, como Plutarco, Cícero, Políbio, Tácito e muitos outros. “Não sinto, por quatro horas, tédio algum, esqueço toda preocupação, não temo a pobreza, não fico

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