O problema religioso
Battista Mondin
Uma manifestação tipicamente humana é a religião. Esta não se acha presente nos outros seres vivos, mas unicamente no homem. Trata-se de uma manifestação que, por abarcar a humanidade inteira, tanto no espaço quanto no tempo (e não só este ou aquele grupo de uma época histórica particular), assume proporções notáveis. Os antropólogos nos informam que o homem desenvolveu uma atividade religiosa desde seu primeiro aparecimento no cenário da história e que todas as tribos e todas as populações, qualquer que seja o nível cultural, cultivaram alguma forma de religião. De qualquer modo, é sabido que todas as culturas são profundamente marcadas pela religião, e que as melhores produções artísticas e literárias - não apenas das civilizações antigas, mas também modernas - inspiram-se em motivos religiosos. Portanto, é razoável afirmar que o homem, além de sapiens, volens, faber, loquens, ludens, etc., é também religiosus. Nem o fato de que hoje a religião está passando por uma profunda crise, e que encontram-se muitos indivíduos que se confessam não-religiosos, constitui um argumento plausível contra a relevância do fenômeno religioso. De fato, consideramos o homem ludens, loquens, faber, sapiens, etc., mesmo que nem todos os homens joguem, trabalhem, falem e pensem. Outro tanto vale para a dimensão religiosa: esta se impõe como uma constante do ser humano, mesmo que não seja cultivada por todos os indivíduos da espécie. A religião, com efeito, é um fenômeno real, típico do homem, porém é também um fenômeno muito problemático e - ousarei dizer - o mais problemático de todos. Isso por um motivo bastante claro: enquanto todas as outras atividades humanas (embora sejam problemáticas) referem-se a objetos cuja existência está fora de discussão, a atividade religiosa, ao contrário, dirige-se a um objeto do qual até sua existência é colocada em questão. Nestas poucas páginas, procuraremos dar uma idéia da natureza e da