O MENDIGO CONVERSANDO COM A CHUVA
Depois de um longo período de seca, todo mundo falando da falta d’água, acusações de omissão, denúncias de consumo indevido e até multas, fora as rezas para que as Chuvas viessem logo, a dita cuja veio. Devagar, quase que tímida, mas veio.
E no meio deste caos todo já era noite e o mendigo, sem ter onde ficar, acomodado entre uma laje e um poste falava sozinho.
Bem, na verdade não falava sozinho não, eu é que não entendi a complexidade de um diálogo entre o mendigo e a Chuva. Sim! Quando revolvi escutar e ao prestar mais atenção daí notei que eles trocavam impressões sobre coisas secas e molhadas. O mendigo falava das andanças dele pelas caatingas nordestinas, onde a seca era mesmo seca e não um montinho de dias sem Chuva.
Em outro momento falou das passagens pelos desertos árabes onde em vidas passadas tinha que cuidar mais do camelo que de sua própria vida, para que um futuro pudesse ainda ocorrer. E falou sobre mais um monte de coisas, que não entendi direito pois ele ás vezes ‘enrolava’ nas palavras.
Mas, não era um monólogo, mas sim um diálogo. E a Chuva também falou.
A cada gota era como se fosse uma palavra. Gota a gota o mendigo ia entendendo-se com a Chuva fina e tímida. Ela falava de coisas que o mendigo não tinha como discordar e até ficava envergonhado como ser humano.
Vejam que um ser humano, por muitas vezes desprezível, ainda sente vergonha das falas de uma chuvinha de nada. Mas tinha suas razões para tal sentimento.
A Chuva falava do desprezo do homem para com a água, pois mesmo diante da falta da mesma, alguns arrogantes abusam em quantidades que falta pra muitas crianças nas terras da seca.
Falou também dos entendidos em águas, ventos e terras, aqueles que estudam e estudam, mas não conseguem ‘enfiar goela abaixo’ daqueles que detém o poder a real a necessidade da prevenção em todos os campos.
O mendigo, que não sabia o significado da palavra prevenção pediu explicações ás gotas da Chuva. Elas