A CONSTRUÇÃO DA LITERATURA NACIONAL A PARTIR DE OS SERTÕES DE EUCLIDES DA CUNHA
Gabriela Hermes Dourado Neves
Introdução
[...] no Brasil as idéias estavam fora de centro, em relação ao seu uso europeu. [...] Trata-se de uma diferença [...] em que as razões nos aparecem ora nossas, ora alheias, a uma luz ambígua, de efeito incerto. [...] (Schwartz 1977).
Este ensaio tem por objetivo analisar o romance Os Sertões de Euclides da Cunha no intuito de descortinar como esta obra se fez preponderante na confecção da literatura nacional. No decorrer deste trabalho, será refletido de que modo e em que medida Cunha representa, neste romance, a constituição do sujeito genuinamente brasileiro.
Além disso, será feita uma breve explanação da biografia do autor, para que possamos nos situar no tocante ao contexto historiográfico. Para o referido estudo, no aspecto metodológico da pesquisa bibliográfica e exploratória, serão feitas leituras basilares de textos como: Romero (1882) Machado (1959) e Schwartz (1977).
Com efeito, a literatura por se só já tem a função de denuncia social, além de representar o contexto historiográfico no qual a obra é ambientada. Em Os Sertões de Euclides da Cunha, é possível enxergar o teor de crítica social que o autor faz ao ressignificar a literatura nacional, trazendo um contraponto à visão eurocêntrica e à ideia de imitação de uma cultura considerada superior: a cultura europeia.
Nesta perspectiva, é pertinente citar Schwartz (1977):
Ao longo de sua reprodução social, incansavelmente Brasil põe e repõe idéias européias, sempre em sentido impróprio. É nesta qualidade que elas serão matéria e problema para a literatura. [...] Se há um número indefinido de maneiras de fazê-lo, são palpáveis e definíveis as contravenções. (p. 12).
Cunha com sua obra prima desconstrói estas ideias europeias, para criar uma literatura nacional. Isto através de um romance que apresenta alto teor de crítica social numa linguagem culta e descritiva.