A AMIZADE
Sejam quais forem as inibições, os sobressaltos e dissabores que nos possam trazer as relações humanas (e a seleção deles, - possível dentro de certos limites. – é um meio de evitá-los ou reduzi-los), não se conforma o homem com o isolamento e a solidão. Dos contatos e das relações humanas, isto é, dessa convivência de que tantas vezes se descrê, mas quase sempre desejada, um dos maiores bens são os vínculos da amizade a cuja formação dá ensejo e que constitui fonte perene de estímulos. Certamente, se é fácil, hoje mais do que nunca, estabelecer ou travar relações de toda ordem, é cada vez mais difícil mantê-las.não só pelo desgaste natural a que estão sujeitas, como também por toda a espécie de tropeços que a vida atual levanta aos contatos mais frequentes e prolongados. “ Os caminhos da amizade que não se frequentam, observa Forel, cobrem-se de espinhos.” Incompreensão e divergências que tendem, em geral, a indispor os homens e a cada momento os lançam uns contra os outros, com petições desabridas e conflitos de interesses, contribuem antes para separar do que para unir.Mas, se a amizade verdadeira , - um dos grandes bens da vida, - se torna cada vez mais rara, bastariam algumas para nos compensarem das decepções e mágoas provenientes das rela-ções humanas e das dificuldades em cultivá-las. A diversidade de temperamento, de formação, de interesses e, mesmo, de ideias, nunca deve perturbar amizades nem mesmo a ameaçá-las . A vida , afinal, é uma conversação interminável e ela não termina exatamente porque entre os homens sempre existiram discordâncias na apreciação dascoisas, dos problemas e dos acontecimentos. O que torna a amizade importante a todos, de maneira indissolúvel, é a capacidade de superação das discórdias, o respeito à personalidade de cada um, o sentimento comum da dignidade da pessoa humana, o da liberdade de opinião e de crítica e o mesmo acatamento aos valores intelectuais e morais de cada