Suicídio
Rogério Lustosa Bastos
Resumo: Este artigo, pensando o suicídio por um contínuo existencial com diferentes graus (primeiros graus de suicídio – desvelando-se por fantasias inconscientes; graus intermediários – caracterizando-se por tentativas de suicídio; graus extremos – destacando-se pelo suicídio fatal), ainda o debate pela perspectiva de Freud e Jung. Mas busca-se, sobretudo, relacionar o suicídio ao processo psicossocial, estudado aqui pelo vínculo. Esse, basicamente apreendido como um padrão vincular, inicia-se na família (socialização primária). Assim, diante da hipótese de se ter vivido sob padrão vincular com pendor à desestrutura (relacionada à dificuldade de cada membro se diferenciar), esse padrão tende a se repetir pela socialização secundária: grupo conjugal, de trabalho, de educação, de religião, etc. Enfim, sem o apoio devido, em alguns casos essa dificuldade leva às tentativas e aos suicídios fatais. Tanto essa discussão quanto o processo psicossocial serão desenvolvidas aqui, principalmente, pela visão institucional de Bastos (2001b),
Bleger (1984), Guirado (2004).
Palavras-chave: Suicídios. Processo psicossocial. Vínculos.
Introdução
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“Faço o que eu faço para não ser transparente”
(Arthur Bispo do Rosário)1
Arthur Bispo do Rosário viveu praticamente 50 anos internado na Colônia Juliano Moreira, sob regime de total discriminação, imposto pela psiquiatria tradicional, pela sociedade e pela sua família. Nesse período, ele, como outros pacientes ditos crônicos, jamais foi procurado por algum familiar. Diante da perda desses
Psicologia UsP, São Paulo, janeiro/março, 2009, 20(1), 67-92
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Curiosas são certas composições existentes no humano, tal como a questão do suicídio e a do grupo social. Em tese, mesmo não se negando a singularidade desse ato, analisar esses fatores isoladamente seria tão inverossímil como defender que o ar que respiramos