Riqueza sensorial na invenção autobiográfica
Sandra de Almada Mota Arantes (Mestre em Letras, UNINCOR)
Resumo:
O presente trabalho objetiva levantar questões sobre a formação na construção de um texto memorialístico, estabelecendo a relação entre o vivido e a sensorialidade na representação. No discurso da memória em De amor e trevas, de Amós Oz, manifestam-se sensações que se solidificam numa consciência do narrador. A memória reconstrói o passado através das emoções de um presente da elaboração. Imagens são reconstruídas e exploradas pelo eu com a certeza das conexões entre a memória e os sentidos. Os sentidos afloram nas emoções de narrar. Nessa escrita a memória é reversível.
Palavras-chave: sensorialidade, memória, invenção autobiográfica.
Um leitor desavisado dificilmente perceberá que aquele que narra uma história não é o autor da mesma. Aquele que cria uma narrativa e, é também seu sujeito, organiza a escrita memorialística e nela insere um eu falando da intimidade. Esse eu não é o que produz a narrativa. Eis um escopo da organização do livro memorialista De amor e trevas, de Oz. Há, na verdade, uma relação entre o que escreve o autor e o que narra no momento presente. O autor estabelece relações com o sujeito da narrativa uma vez que fala dele mesmo, propondo ao mesmo tempo um afastamento entre os dois, uma distância dada pelo tempo, estabelecida entre a época em que as coisas aconteceram e a época em que foram relatadas. O personagem dessa história é o tal sujeito para quem, por meio das manifestações sensoriais vividas e presentes na narrativa, é dada a possibilidade de se estabelecer uma construção. O cenário explorado é o local onde vive esse sujeito em processo de formação, ou se imagina que vive. Nesse estudo, um menino revive narrativas do autor. Narrativas com cheiros, com sabores de infância, de adolescência, de vida. A recriação do cenário é feita em função do que se pode lembrar, mas não é possível lembrar-se do