Resenha: Epistemologias do Sul
A expressão Epistemologias do Sul é uma metáfora do sofrimento, da exclusão e do silenciamento de povos e culturas que, ao longo da História, foram dominados pelo capitalismo e colonialismo. Colonialismo este, que imprimiu uma dinâmica histórica de dominação política e cultural submetendo à sua visão etnocêntrica o conhecimento do mundo, o sentido da vida e das práticas sociais. Afirmação, afinal, de uma única ontologia, de uma epistemologia, de uma ética, de um modelo antropológico, de um pensamento único e sua imposição universal.
A partir de perspectivas e linhas de investigação distintas, esta obra pretende responder, essencialmente, a duas questões: a primeira diz respeito às razões que conduziram à eliminação dos contextos políticos e culturais da produção do conhecimento e suas consequências; a segunda, partindo da ideia de que o mundo é epistemologicamente diverso, relaciona-se com a possibilidade de afirmação de epistemologias alternativas, de abertura a outros desafios epistêmicos, substancializados na expressão conceptual e metafórica Epistemologias do Sul. Historicamente, do conhecimento e da sua produção foram eliminadas as relações sociais, as respectivas práticas e os contextos socioculturais, eliminação que conduziu à afirmação mistificante e ilusória de uma ideologia de neutralidade científica. Efetivamente, a epistemologia dominante fundamenta-se em contextos culturais e políticos bem definidos: o mundo moderno cristão ocidental, o colonialismo e o capitalismo. Neste sentido, a produção do conhecimento, o modo como se faz, onde se faz e o que se faz não é exterior aos contextos sociais e políticos que o prefiguram e configuram. Afirmar, pois, a exclusividade de uma epistemologia com pretensões universalizantes tem um duplo sentido: por um lado, a redução de todo o conhecimento a um único paradigma, com as consequências de ocultação, destruição e menosprezo por outros saberes e, por outro, a