Resenha: “Emoções, individuais ou sociais?” REZENDE, Claudia & COELHO, Maria Claudia.
Nesta seção, vamos acompanhar a condição de fã e as emoções a ela associadas, a saber, o amor e a fascinação. Em um trabalho de Coelho para compreender a experiência da fama, ele analisou 208 cartas enviadas de fãs para ídolos, um ator e uma atriz. Os fãs se diferenciavam perante seus ídolos e diziam ser o “fã numero 1”. Nas cartas eles falavam de amor, afeto, apreço e admiração; faziam elogios e declarações de amor. Morin afirma que nas cartas de fãs “a linguagem do amor se mistura com a da adoração” e o Coelho volta sua atenção para esse “mistura”.
Segundo Lindholm, há uma diferença entre o amor e a carisma. O amor romântico seria uma experiência socialmente valorizada na modernidade ocidental. O carisma seria objeto de uma desvalorização social, com a adoração carismático sendo alvo de sentimentos de honestidade e menosprezo nesta mesma modernidade ocidental. Ainda no trabalho de Coelho, os filmes que tematizam a relação entre fã e ídolo, descreve o fã como uma pessoa adoecida, solitária e descontrolada, em que o fim geralmente é o abandono ou a morte, e nunca a reação com seu ídolo.
Então, ser fã é algo a ser evitado. Dizer-se fascinado é um risco para a autoimagem. Coelho tenta compreender por que o fã fala de amor para seu ídolo, apesar de todas as inadequações aparentes desta escolha? É porque, confrontado com uma imagem socialmente desvalorizada de sua experiência emocional, o fã traduz o fascismo em amor, para resgatar uma imagem favorável de seus sentimentos. Dizer-se fascinado é sentir-se em uma multidão, é aceitar ser só uma em meio de muitos. Dizer-se apaixonado é resgatar a dimensão singular de sua identidade.
O sentimento de ser único e especial nem sempre é uma fonte de satisfação. O encapsulamento no próprio mundo interno pode criar uma percepção distorcida e exagerada da própria identidade, trazendo consigo um sentimento de incompreensão pelo outro. Wood