qualquer coisa

5475 palavras 22 páginas
melhor. No dia seguinte repetiu a dose; deu-se bem com a perturbação em que a punha o álcool, esquecia-se um pouco durante algum tempo das amofinações da sua vida; e, gole a gole, habituara-se a beber todos os dias o seu meio martelo de aguardente, para enganar os pesares.
Agora, que o marido já não estava ali para impedir que a filha pusesse os pés no cortiço, e agora que Piedade precisava de consolo, a pequena ia passar os domingos com ela. Saíra uma criança forte e bonita; puxara do pai o vigor físico e da mãe a expressão bondosa da fisionomia. Já tinha nove anos.
Eram esses agora os únicos bons momentos da pobre mulher, esses que ela passava ao lado da filha. Os antigos moradores da estalagem principiavam a distinguir a menina com a mesma predileção com que amavam Pombinha, porque em toda aquela gente havia uma necessidade moral de eleger para mimoso da sua ternura um entezinho delicado e superior, a que eles privilegiavam respeitosamente, como súditos a um príncipe. Crismaram-na logo com o cognome de "Senhorinha".
Piedade, apesar do procedimento do marido, ainda no intimo se impressionava com a idéia de que não devia contrariá-lo nas suas disposições de pai. "Mas que mal tinha que a pequena fosse ali? Era uma esmola que fazia à mãe! Lá pelo risco de perder-se... Ora adeus, só se perdia quem mesmo já nascera para a perdição! A outra não se conservara sã e pura? não achara noivo? não casara e não vivia dignamente com o seu marido? Então?!" E Senhorinha continuou a ir à estalagem, a principio nos domingos pela manhã, para voltar à tarde, depois já de véspera, nos sábados, para só tornar ao colégio na segunda-feira.
Jerônimo ao saber disto, por intermédio da professora, revoltou-se no primeiro ímpeto, mas, pensando bem no caso, achou que era justo deixar à mulher aquele consolo. "Coitada! devia viver bem aborrecida da sorte!" Tinha ainda por ela um sentimento compassivo, em que a melhor parte nascera com o remorso. "Era justo, era! que a pequena aos domingos

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