plural mas não caótico
Bosi, em Plural, mas não Caótico (BOSI, 1987), apresenta a idéia de que não existe uma cultura brasileira homogênea. Dessa forma, o país torna-se palco de um cenário cultural confuso, mas que guarda, exatamente nessa suposta falta de ordem, a sua singularidade.
O tempo exerce, nesse aspecto, fator essencial, assumindo naturalmente o papel de pontuar os diferentes ritmos culturais encontrados no país.
A cultura de massa é, então, apontada por Bosi como rápida, descartável e superficial, decorrente da urgência do mercado de produzir signos em série e em ritmo industrial, ocasionando a perda da memória social generalizada. Assim, o receptor torna-se sujeito passivo e individualista, capaz de guardar apenas o que sua “própria cultura vivida lhe permitir filtrar e avaliar”.
Em contrapartida, é também apresentada uma “outra cultura”, que mesmo rodeada por meios de comunicação de massa, resiste às suas origens, conservando “ritmo próprio e história interna específica”.
Nessa “outra cultura” há uma bifurcação: a cultura popular, das classes pobres, iletradas e a cultura erudita, representada pelo sujeito de escolaridade média e superior. Ambas alheias ao regime de produção em série.
O tempo da cultura popular é cíclico e possui enraizamento. Dessa forma “sempre que uma inovação penetra na cultura popular, ela vem de algum modo traduzida e transposta para velhos padrões de percepção e sentimento já interiorizados e tornados como uma segunda natureza”. Assim, uma manifestação popular, identifica-se com seus participantes, não separando o sujeito do objeto.
Já a cultura erudita, representada pela pesquisa, ciência, letras e filosofia, possui um grau alto de consciência universalizante e, em conseqüência, uma espécie de “liberdade formal”, que guarda em si o poder de autocrítica, fundamental para que, o seu ritmo, sobretudo no contexto brasileiro, seja assimilado e passível de análise.
Assim é a cultura brasileira: