Nossa semelhança com os deuses
CONTO VENCEDOR DO I PRÊMIO PLAYBOY DECONTOS ERÓTICOS.
Edição de dezembro de 1995.
A NOSSA SEMELHANÇA COM OS DEUSESCinquenta e dois anos de idade, viúvo há seis meses, aposentado há um ano, sem filhos e sem amigos. Eu tenho pensado na vida e na morte enquanto percorro as margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, vendo passar por mim corpos perfeitos, bundas docemente empaladas em bicicletas, torgos gregos melados de suor. Aqui outrora retumbaram hinos, como dizia um bêbado chato, depois do terceiro chope no Bar da Lagoa. Nos meus momentos de depressão, pensei às vezes em encher os bolsos de pedras e numa homenagem à Virginia Woolf desaparecer nas aguas pesadas de lodo, de onde emergem savelhas em surtos de asma. O desejo sexual é que me mantem vivo, para cobiçar cada vez mais as mulheres que rondam a lagoa. Andei tantas vezes em volta desse espelho d’agua, e tanto me deslumbrei com os triângulos estufados nas calças de jogging, e tanto me excitei com as bundas exibidas e com seios de mamilos eriçados, pontas de lança sobre blusas brancas, que desisti de carregar pedras no bolso, e terminei por aceitar que a vida não é uma sucessão de tédio e ansiedade. O sexo, Virginia, vale uma missa. Introspectivo, pouco tolerante, temperamento difícil – faço restrições a esses juízos ao meu respeito. Mas reconheço que tenho dificuldades de me aproximar das mulheres com a intenção que move todos os homens: possuí-las. Com três meses de viuvez, comecei a sentir uma desagradável falta de vida sexual, mesmo aquela cumprida pela parceira como um dever, uma penitência, em 31 anos e casamento. A doce falecida se submetia aos meus caprichos, às minhas fantasias, ao meu priapismo, como quem morre de desalento, de desencanto. Agora, na solidão da cama de viúvo, meu sexo tinha frequentemente espasmos de um sufocado. Procurar as putas, não. As prostitutas bonitas, bem-informadas e sensíveis só