Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma e destroi cada ilusão que nasce,
Tudo que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo.
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez, existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa! (Raimundo Correia)
O poema de Raimundo Correia apresenta versos decassílabos, uma forma muito utilizada no período literário Parnasiano, no qual o autor era adepto rejeitando qualquer estilo Romântico. Os versos decassílabos originam-se da Itália e foram importados por Sá de Miranda e António Ferreira, cancioneiros Ibéricos, MEDIDA NOVA deixando a MEDIDA VELHA (sete sílabas), tal como os subgêneros como: o soneto e outros. Esse metro se classifica como Heroico, ele apresenta sílabas tônicas na posição 6 e 10 tendo mais uma ou duas sílabas complementares. Tomando o primeiro verso pode-se observar essa acentualidade:
6 10
Se a/ có/le/ra/que es/pu/ma, a/ dor/ que/ mo/ra
O verso recebe a tônica na palavra espuma (pu/ posição 6 ) e na palavra mora (mo/ posição 10).
Como a tônica das últimas palavras de todos os versos são paroxítonas, conceitua-se como versos graves.
Quanto à estrofe, ela apresenta dois quartetos e dois tercetos, um soneto, também estilo do mesmo período literário usado especialmente pela tríade composta por Raimundo Correia, Olavo Bilac e Alberto de Oliveira. O Soneto teve origem, também, na Itália e foi levado para Portugal pelos mesmos autores citados anteriormente.
As rimas soantes posicionam-se na estrutura de ABAB, ABAB e CCD, CCD e classifica–se como perfeita devido às vogais tônicas serem idênticas no timbre, porém, suas rimas são pobres.
O poema Mal Secreto possui,