Tensão gerada pela dúvida quanto ao sigilo de seu segredo. Tensão paranóica, desesperada. Recusa-se à vida, recusa a si mesmo qualquer distração externa. Porque tudo o que acontece fora do imaculado lar pode suspeitar dúvidas, não o deixam em paz, vigiam-no a todo instante. O lar, estranho local, onde tudo se silencia, onde tudo sedimenta como poeira depois da chuva. Só no lar ele realmente senta em sua poltrona, assenta seus nervos. Só ali ele pode finalmente descansar e apreciar sua bela lolita. Também ela só lhe é útil dentro deste mesmo lar, protetor do segredo deles; abrigo de um amor proibido. Só ali a ninfeta torna-se realmente amante. A realização do desejo: o prazer. Fora do lar, ansiedade, anseios e desejos disfarçados. Dentro do lar: o puro prazer. Dentro e fora do lar constituem o movimento do filme, é também o movimento de Humbert em perseguição a Lolita, arrastando-a sempre que pode para o interior deste lar-prazer. Muito diferente de outros homens, ditos "comuns", que buscam o prazer fora de casa. Mas o que me parece é que esta paixão ardente nunca se realiza, o ato não se cumpre, fica somente o devir de um desejo saciado, mas nunca chega-se ao prazer de fato. Lolita é um passarinho que Humbert tenta em vão e desastrosamente colocar em sua gaiolinha. Mas ele não quer com isso cortar as asas de uma menina tão diferente das outras. Não! Ele não quer lhe tolher os modos, nem moldá-los. Em verdade, quer vê-los desabrocarem-se sozinhos, por si só, voar com suas próprias asas, porém embaixo do meu nariz, onde eu possa vê-la, vigiá-la, cuidá-la como a uma filha. Seu medo não está em ela relacionar-se com outro garoto da sua idade, não sente o ciúmes comum, também seu medo não está em descobrirem a relação íntima que matêm, apesar de que isto o deixa preocupado mais a frente. O que o amedontra é que outros possam ver o que ele viu em Lolita, estampado no rosto de adolescente de menina prometendo a eternidade. Esta promesa Lolita vê em outra pessoa, Quilty. E