Livro Quem me dera ser onda
Angola é um país que passou por profundas guerras armadas entre movimentos visando a luta pelo poder. Para começar uma discussão político-social de Quem me dera ser onda, de Manuel Rui, portanto, vale atentar para um breve panorama histórico de Angola para que, enfim, cheguemos às questões político-sociais enxertadas de forma irônica na obra de Manuel Rui. No poema “Padrão” de Mensagem, Fernando Pessoa dá voz a um importante navegador português. O sujeito lírico declara:
“Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno”
Durante o reinado de D. João II, os portugueses, sob o comando do navegador Diogo Cão, chegaram ao Zaire no ano de 1484, onde fincaram o padrão (bandeira de Portugal) no areal moreno (a África, mais especificamente a Costa do Congo que fica próxima de Angola). Deu-se, então, início ao processo de colonização portuguesa a partir dessa região, inclusive Angola. De fato, no século XVI, os portugueses se fixaram na atual região angolana. Foi em 1576 que a cidade de São Paulo da Assunção, atual Luanda, foi fundada. Ali, estabeleceu-se um maciço mercado abastecedor de escravos, tornando-se, no século XVIII, um reservatório de escravos para as plantações e minas brasileiras, bem como de outras colônias portuguesas na América. O fim do tráfico de escravos (1836-42) não põe fim, no entanto, à escravatura. No fim do século XIX, as linhas ‘fronteiriças’ de Angola foram definidas e no ano de 1823, em Benguela, surgiu a Confederação Brasílica. Essa confederação consistiu num movimento que tinha o intuito de fusionar Angola ao Brasil que, na época, era recém-independente. O movimento foi composto por colonos e soldados de Benguela que eram, na maioria, do Brasil. O governo da colônia em Luanda requereu reforços e massacrou a revolta. Dando um salto no tempo, já em 1941, iniciou-se um movimento de imigração onde, aproximadamente, cento e dez mil portugueses saíram de Portugal rumo às colônias. Grande parte desses