Letras
O poema abaixo é de Ana Cristina Cesar, retirado do livro “Inéditos e dispersos”, da Editora Ática.
Artimanhas de um gasto gato Não sei desenhar gato. Não sei escrever gato. Não sei gatografia Nem a linguagem felina das suas artimanhas Nem as artimanhas felinas da sua não-linguagem Nem o que o dito gato pensa do hipopótamo (não o de Eliot) Eliot e os gatos de Eliot (“Practical Cats”) Os que não sei e nunca escreverei na tua cama. O hipopótamo e suas hipopotas ameaçam gato (que não é hopogato) Antes hiponímico. Coisa com peso e forma de peso e o nome do gato? J. Alfred Prufrock? J. Pinto Fernandes? o nome do gato é nome de estação de trem o inverno dentro dos bares a necessidade quente de tê-lo onde vamos diariamente fingindo nomear eu – o gato – e a grafia de minhas garras: toma: lê o que eu escrevo em teu rosto a parte que em ti é minha – é gato leio onde te tenho gato e a gatografia que nunca sei aprendi na marca no meu rosto aprendi nas garras que tomei e me tornei parte e tua – gata – a saltar sobre montanhas como um gato e deixar arco-irisado esse meu salto saltar nem ao menos sabendo que desenho e escrita esperam gato saltar felinamente sobre o nome de gato ameaçado ameaçado o nome de GATO ameaçado o nome de GASTO ameaçado de morrer na gastura de meu nome repito e me auto-ameaço: não sei desenhar gato não sei escrever gato não sei gatografia Nem… (2.10.1972)
A autora faz jogo de palavras, recorre à intertextualidade explícita, cria neologismos, faz da metalinguagem um tema. Diante disso, vamos aprofundar um pouco mais nossa leitura:
a) Destaque exemplos de neologismo (invenção de palavras) e discorra sobre sua importância no poema. b) A autora fala da linguagem (do gato, mas também da linguagem do poeta) e, em especial, o papel do ser humano em nomear os seres. Que verbo sintetiza a opinião da autora sobre o ato de nomear? c) Ela questiona sobre o nome gato