HUMILHAÇÃO SOCIAL – UM PROBLEMA POLÍTICO EM PSICOLOGIA
Instituto de Psicologia – USP
Este artigo opera com resultados de uma pesquisa de psicologia social desenvolvida em regime participante e envolvendo mulheres que na Vila Joanisa – SP assumiram comunitariamente o trabalho de Centros de Juventude. Dedicamo-nos aqui ao exame de um problema político e psicológico, a humilhação social, uma modalidade de angústia disparada pelo impacto traumático da desigualdade de classes: para assim caracterizá-lo, recorremos à investigação marxista e à psicanálise.
Descritores: Classe trabalhadora. Privação social. Ansiedade social. Psicologia social.
As companhias de Marx e de Freud: nem rivalidade, nem equivalência
Marxismo e Psicanálise. O tema contou entre os mais enfrentados por fertilíssimos pensadores que atravessaram e ultrapassaram a Segunda Grande Guerra, em Frankfurt ou em Paris, exilados na Inglaterra ou nos Estados Unidos. Quem desejasse retomar as possibilidades e dificuldades do assunto, em seu detalhe filosófico, certamente deveria recorrer àqueles escritores de grande envergadura dialética e que interrogaram-se sobre Freud enquanto liam O Capital ou interrogaram-se sobre Marx enquanto liam O mal-estar na Cultura.
Que portanto o leitor não se engane quanto ao limite dos parágrafos seguintes. Trata-se de um estudo de psicologia social. Esforça-se apenas para indicar um problema político – a humilhação social – que, para ser ainda hoje discutido e superado, não deveria dispensar as antigas companhias de Marx e de Freud.
Dentre as três palavras – /marxismo/ /e/ /psicanálise/ – talvez a mais anódina entre elas, aparentemente insignificante, esta partícula /e/ – uma conjunção aditiva – é que merecesse desde já polarizar nossa atenção. Dizemos: marxismo e psicanálise. Encontramo-nos, assim, não perante uma alternativa:marxismo ou psicanálise. Tampouco deparamo-nos com associações híbridas: "psicanálise marxista" ou