Heidegger

3148 palavras 13 páginas
A questão do outro em Heidegger *

Benedito Nunes
Professor-titular aposentado da UFPa

“Je est un autre”, escreveu Rimbaud em carta a Georges Izambart (I871), mais tarde conhecida como a carta do vidente. Definindo o Eu como outro, o poeta colocava no Eu a origem da alteridade. Também poderia ter dito: no Eu se esconde o outro ou o outro se desdobra do Eu. Não se trata de fantasia de poeta, mas de uma visão poética sobre quem eu sou. Eu não sou uma identidade sem fissuras, porque a consciência que tenho de mim mesmo está sempre à beira de um desdobramento e, por vezes, de borbulhante multiplicação. Houve um poeta moderno, Fernando Pessoa, que se viu ou ouviu como uma multidão de vozes ou como um polipeiro de consciências. Um eu é pouco. É preciso sentir como várias pessoas. Desse ponto de vista, a identidade pessoal seria um fingimento de ser, a menos que, seguindo Heidegger em Ser e tempo, pudéssemos concebê-la como detenção do fluxo temporal, o que implica admitir uma relação estrita da alteridade com a temporalidade. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, reza um verso de Camões. No foco do tempo presente articula-se o instante cartesiano do pensamento. Penso, logo existo enquanto penso; existindo enquanto penso, ganho a condição de sujeito pensante, que também pode chamar-se de espírito ou razão.
*

Palestra proferida durante o VIII Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof), Poços de Caldas, 3-8 de outubro de 2000.
Natureza Humana 3(1): 51-59, jan.-jun. 2001

Benedito Nunes

O espírito conhece o espírito, cuja primeira escala, a consciência de si, Hegel chamaria de “a terra natal da verdade”. A consciência de si é a consciência que tenho de mim mesmo, e que me confere identidade. Diante de minha consciência há outros, diversos outros, como objetos, coisas e obras de arte, que não sou eu mesmo, e outras consciências de si com suas identidades próprias e, portanto, com os seus respectivos Eus. O problema do Outro,

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