hdhex
1321 palavras
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GRUPO ITexto 1
«Quando eu dava aulas de Filosofia, preocupava-me em ser útil aos alunos, aos estudantes. Nessa medida, não era filósofo, O filósofo não visa a utilidade. O mais útil é o que serve para a felicidade. A filosofia não visa a felicidade. Visa unicamente a verdade. Ora, é bem possível que a verdade seja dolorosa, seja penosa, seja destruidora da felicidade (pelo menos do que aparentemente designamos por felicidade). A Religião, ao contrário da Filosofia, está na categoria do útil. Promete a felicidade e diz o que se deve fazer e o que se deve ser para merecer a felicidade (ou a salvação) e obtê-la.
A Filosofia preocupa-se apenas com a verdade, mesmo que seja desesperadora, mesmo que seja mortal. Que verdade? Não se trata de dizer a verdade a respeito dos fenómenos astronómicos ou físicos, ou químicos ou biológicos, ou outros, ou a respeito do que aconteceu ou acontece no mundo, ou/e buscar as leis que explicam ou descrevem a evolução das sociedades, ou aquelas que, se existem, governam os comportamentos ou os estados de alma. Tudo isto é objeto da ciência e das ciências. As ciências fazem-nos conhecer o dado com o objetivo de prever, antecipar e agir. A finalidade das ciências é a utilidade e a técnica. A ciência proporciona verdades sempre parciais. A ciência só existe no plural. Lidando apenas com o dado, não com o conjunto do real, só pode alcançar uma verdade estabelecida a partir do dado, não a Verdade, única e universal. Mas talvez haja apenas verdades objetivas parciais. Se a Filosofia visa a verdade, não é a verdade estabelecida a partir do dado, mas a verdade a respeito do conjunto do real, em que é preciso entender simultaneamente o dado e o além do dado. O além do dado é o que se costuma chamar de metafísica. Filosofar não é estranho ao ser do homem, como o facto de se alimentar mais disto ou daquilo, de exercer tal profissão e não outra, de ter tal opinião política ou crença religiosa. Pois, quer nos alimentemos de carne ou