Fernando Pessoa

13082 palavras 53 páginas
Poemas e Análises de Fernando Pessoa, por ele mesmo.

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração

Análise:

O poema "Autopsicografia", escrito em 1930 e publicado em 1932, é porventura um dos poemas mais conhecidos de Fernando Pessoa.
Autopsicografia pode ser traduzido como "escrita da própria alma". De certa maneira é Pessoa aqui o espírito que transmite a mensagem ao Fernando Pessoa que escreve.
Porquê este título? Porque nos parece que Pessoa quer descobrir para si mesmo o mistério da sua poesia e sobretudo da arte de ser poeta. Quem é o poeta, e porque será que o poeta escreve? A resposta, enrolada num mistério, apenas poderá ser desvendada através de um método igualmente misterioso.

Analisemos então o poema estrofe a estrofe:
O poeta é um fingidor/Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente
É certo que este poema desvenda de certo modo a "teoria poética" Pessoana, mas não nos iludamos com a presença de certezas. Pessoa define o poeta como um "fingidor", mas fala apenas de si mesmo. Novamente reforçamos a importância da análise do título: é Pessoa a falar de si a si mesmo. Um poeta pode não ser um fingidor, mas ele, enquanto poeta, é revelado enquanto um fingidor.
Uma ponta dessa revelação é que o fingimento serve para mascarar a dor. A dor que Pessoa sente é real. Mas através da poesia, a dor que ele sente, finge-a, ao ponto de a dor real parecer fingida. Mas ela é real? No início, sim, mas depois do filtro da poesia, já nada é real, mas sim emocionado ou raciocinado.

E os que leem o que escreve,/Na dor lida sentem bem,/Não as duas que ele teve,/Mas só a que eles não têm.
Se o poeta já não consegue distinguir o que

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