evangelico
Renata de Melo Rosa1.
O objetivo deste artigo é dialogar com expoentes da literatura clássica sobre a nacionalidade no sentido de entender a força do imaginário coletivo na formação do nacionalismo e das identidades nacionais. Ao condicionar o nacionalismo a uma faculdade de invenção de um “nós nacional” que se opõe a uma ou mais alteridades nacionais, esta literatura localiza as raízes do nacionalismo para além das condições concretas que estruturam a existência social das nações. Em concordância com esta perspectiva teórica, pretendo explorar os limites do imaginário dominicano que, ao edificar uma oposição perfeita com a identidade haitiana define, através do horror ao “outro”, sua própria identidade. Mas, em discordância com ela, proponho que a existência de um “ser nacional” dominicano pressupõe a construção de alteridades também no âmbito da nação, comprometendo a idéia de que a mesma possa ser pensada como comunidade de similiares. A base de dados de minha pesquisa de campo na República Dominicana2 sobre mulheres dominicanas casadas com europeus aponta que elas recebem um tratamento de repulsa por parte de seus compatriotas, que passam a concebê-las como cidadãs de segunda categoria. A partir desta interpretação, proponho que as alteridades que se formam no interior desta nação indicam a impossibilidade da mesma ser entendida como uma comunidade de similares, mas sim como um grupo hierarquizado a partir das diferenças de gênero e raça, entre outras.
Em Nação e Consciência Nacional, Benedict Anderson examina o nacionalismo como fenômeno composto por ordenamentos culturais e conjuntos de relações que podem sofrer alterações históricas a ponto de redefinir as construções de alteridades nacionais e até mesmo redimensionar a própria motivação de criação de um “outro”. Estas idéias são promissoras e estimulam a crítica que tem a expectativa de contribuir com um mundo mais