Estudante
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais!...
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
O trecho retirado representa o desfecho do poema Navio Negreiro reproduzido por Castro Alves (poeta considerado pai dos negros). Nesse trecho o eu-lírico pede por mudanças na vida dos negros escravos nos navios. Pois eles abandonaram forçadamente uma vida de amores, de comprometimentos familiares, liberdade e estão submetidos agora a viver em um porão apertado, sujo, infectado por doenças, fome, morte, sede e cansaço. Um ambiente de péssimas condições e que exalava tristeza e sofrimento: "Silêncio. Musa... chora, e chora tanto. Que o pavilhão se lave no teu pranto!... "
O eu-lírico se questiona sobre o país responsável por tal crime: "Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?", está mais do que claro a indignação dele perante tal situação. Além disso, o eu-lírico faz referência aos heróis que lutaram pela conquista do Novo Mundo, sendo assim os negros que estão sofrendo deviam se levantar e impedir que coisa tão horrorosa acontecesse em suas terras: "Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!