Escola e trabalho numa perspectiva histórica: contradições e controvérsias
issn 1646‑4990
Conferências
Escola e trabalho numa perspectiva histórica: con‑ tradições e controvérsias
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, 12 de Fevereiro de 2009
(XVII Colóquio Afirse — Secção Portuguesa, “A escola e o mundo do trabalho”)
Toda sociedade vive porque consome; e para consumir depende da produção. Isto é, do trabalho. Toda a socieda‑ de vive porque cada geração nela cuida da formação da geração seguinte e lhe transmite algo da sua experiência, educa a. Não há sociedade sem trabalho e sem educação
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(Konder, 2000, p. 112).
A idéia de Anaxágoras, de que o homem pensa porque tem mãos, expressa um processo histórico onde o ser hu‑ mano foi se tornando humano e as mãos representaram a forma mediante a qual se apropriava dos meios de vida.
Por milhões de anos os seres humanos apenas eram cole‑ tores daquilo que a natureza lhes oferecia. Colhiam fru‑ tos, pescavam, caçavam. A idéia de excedente, pois, não existia. As mãos, também, se constituíram no primeiro instrumento de preparo da terra para plantar sementes.
Pelas mãos, o ser humano foi fabricando seus instrumen‑ tos de trabalho e modificando sua relação com a nature‑ za e com os outros seres humanos e, assim, modificando suas condições de vida e sua natureza.
Antes, o trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, me‑ deia, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencen‑ tes à sua corporeidade, braços, pernas, cabeça e mãos, a fim de se apropriar da matéria natural numa forma útil à própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a natureza externa a ele e ao modificá la, ele modifica, ao mesmo tempo,
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sua própria natureza (Marx,