Diario de guerra
Os episódios se repetem sem que os homens se corrijam e tenham as precauções necessárias para evitar tais surpresas. E foi assim que, por descuido, fomos colocados diante do perigo de vida ou morte naquela noite de 3 para 4 de fevereiro de 1945.
... - como comandante do 1º Pelotão da 7ª Cia do 11º RI, ocupava um posto avançado nas fraldas de Monte Castelo, ao norte do Monte de Gaba mais precisamente. Estávamos em pleno inverno e o dia amanhecera chuvoso e nevando bastante; contudo no front, tudo calmo. Logo pela manhã notei a presença de um homem estranho junto à família de camponeses que ocupavam parte do porão da velha casa de pedra que nos servia de casamata. Certifiquei tratar-se de um compadre daquela gente, morador em terras de ninguém, que viera a fim de matar um porco. Não dei muita importância ao visitante, mas pedi que não regressasse sem o nosso consentimento, pois poderia ser atingido por fogos das posições vizinhas.
Aquele dia passou chovendo e nevando, mas sem nenhum movimento de tropa no front... a noite caíra como um pesadelo sobre nós : fria , silenciosa, tétrica em todos os sentidos. Eu me preocupava com o estado de saúde dos homens que se apresentavam com nevralgia, dor de dente, gripe e outras moléstias provocadas pelo rigoroso inverno. Ao pé da lareira, falando a cochichar com os companheiros, resolvi deixar apenas um homem ao telefone, pois tudo parecia muito calmo... Todavia, o sargento Ivo, pernambucano arrojado e um tanto caxias, deveria, às 4:00 horas da manhã, fazer uma patrulha de reconhecimento na frente da posição, para certificar-se da situação. Este bravo sargento, salvou o pelotão com seu senso de responsabilidade como adiante veremos.
Antônio Bressan, que ficara ao telefone, morto em Montese, não tardou a dormir, pois estava também esgotado, dobrando serviço, em vista do reduzido efetivo do Pelotão, ficando assim, a posição a mercê do inimigo. Felizmente, a sorte que sempre esteve de nosso lado