Culturas portuguesas
A REVOLUÇÃO LIBERAL: ENQUADRAMENTO SOCIOPOLÍTICO
Factores de desestruturação do Antigo Regime
A estrutura da antiga sociedade portuguesa assentava numa economia agrária, fortemente ruralizada, analfabeta e refractária ao impacte da revolução industrial liderada pela Inglaterra, impulso que, desde 1760-1780, irá transformar a civilização material da Europa. Apesar de não existirem dados estatísticos precisos, é crível que, na alvorada do século XIX, mais de 95% da população portuguesa fosse iletrada, o que tipifica, quando confrontada com o caso inglês, uma situação de claro subdesenvolvimento. Outro índice que permite chegar a esta mesma conclusão pode ser observável na ausência de concentração urbana e de bolsas industriais significativas mesmo em Lisboa, capital do reino e cidade portuária que centralizava os fluxos económicos do Império. Sabe-se, ainda, que, durante todo o século XVIII, o comportamento demográfico da sociedade portuguesa foi de claro crescimento (de cerca de 550 000 fogos em 1730 passou para 750 000 em 1800, ou seja, de 2,2 milhões para cerca de 3 milhões de habitantes), fenómeno que foi estruturalmente atenuado pela contínua emigração, realidade de longa duração que permite caracterizar Portugal como uma sociedade em permanente diáspora (só entre 1700 a 1760, auge do «ciclo» do ouro brasileiro, terão emigrado para o Brasil 500 000 portugueses). Por outro lado, a despeito do crescimento demográfico, a auto-suficiência alimentar não será atingida, em parte fruto do sistema de repartição e de perpetuação da propriedade fundiária, nomeadamente através da instituição vincular. Este aspecto é importante na perspectiva da afirmação segundo a qual as invasões francesas (1807-1811) não tiveram por consequência imediata a quebra do sistema produtivo, antes o agravaram.
O próprio poderio marítimo português se encontra em fragmentação. Sem dúvida que, em 1800, Portugal continuava a ser uma potência marítima, mas