Considerações sobre a tragédia de realengo
Por: Jeorge Luiz Cardozo*
Ao nos propormos a refletir sobre a tragédia ocorrida em Realengo, à questão que, de imediato, nos vem à mente é se essa tragédia ter-se-ia, de fato, feito sentir no seio da degradação da moral capitalista ou fato isolado como nos fazem pensar a mídia burguesa?
Duas razões, a nosso ver, justificam tal questionamento. Por um lado, o êxodo rural, fruto de uma ótica estreita e corporativa do capital que busca, de forma infrutífera, mão de obra barata e da apropriação feita pelo agro-negócio das terras dos pequenos produtores rurais. Destarte, a inconsistência dos valores capitalistas decorre, em grande parte, desse mesmo isolamento entre ricos e pobres, pois, a riqueza se constitui dada à própria natureza do seu objeto, que é o lucro e, por conseqüente, o incentivo ao consumismo desenfreado que, tem levado jovens de todas as classes sociais, ao escravismo do consumo a qualquer custo.
Portanto, como entender a violência contemporânea? Como entender a legitimação da violência em nossa sociedade e no mundo?
No Brasil, mais de 50 mil pessoas são assassinadas por ano. Crimes que desafiam a compreensão humana surgem em cascatas, diante dos olhos de todos, diuturnamente.
É preciso que compreendemos que a violência é uma manifestação da luta pelo poder, melhor dizendo, a violência é, essencialmente, política. A frase de C. Wright Mills “Toda política é uma luta pelo poder; a reforma básica do poder é a violência” corrobora para o enfoque deste fenômeno desestruturante da sociedade.
A questão da violência está diretamente relacionada ao sistema organizacional político e remete às diferenças socioeconômicas – as lutas de classes. Para Karl Marx, o Estado se constitui enquanto representante legítimo da classe dominante, exercendo o seu poder sobre a classe dominada. Afirma-se que a violência reside no poder. Mas o que é o poder?
Hannah Arendt