Adolescência
Capítulo 4. A ADOLESCÊNCIA COMO IDEAL CULTURAL
Um lado exasperante da adolescência é que é difícil encontrar uma escolha adolescente que não seja a realização do sonho dos adultos. É quase impossível, para o adolescente, se afastar da interpretação do desejo adulto, por duas razões.
Primeiro, porque o acesso à idade adulta em nossa cultura não é regrado por um ritual, mas depende de um olhar, de um consenso que nem sabe articular suas condições. Portanto, é necessário procurá-las interrogando e interpretando o desejo dos adultos.
Segundo, por uma espécie de pecado original próprio a uma cultura que idealiza a autonomia. Mesmo se o comportamento adolescente fosse totalmente regrado pelo plano de não mais depender do reconhecimento dos adultos, mesmo se isso fosse possível (e talvez se torne possível, por exemplo no grupo adolescente), a autonomia assim realizada ainda seria o sonho dos adultos para o adolescente. Aliás, esse é o sonho de liberdade por excelência, o sonho que acompanha qualquer vida adulta contemporânea nas formas mais variadas, do desejo de férias à tentação de cair fora.
Verifica-se então o paradoxo seguinte: a adolescência, excluída da vida adulta, rejeitada num limbo, acaba interpretando e encenando o catálogo dos sonhos adultos, com maior ou menor sucesso. Mas, através de todas as suas variantes, ela sempre encarna o maior sonho de nossa cultura, o sonho de liberdade. Ou seja, por tentar dispensar a tutela dos adultos, a rebeldia adolescente se torna uma encenação do ideal cultural básico. Por esse motivo, as condutas adolescentes em todas as suas variantes se cristalizam, se fixam e se tornam objetos de imitação.
Tudo leva a fazer da adolescência um ideal social. É até bem possível que a adolescência surja na modernidade como ideal necessário. Logo, que a adolescência como ideal seja quase um corolário do mundo contemporâneo. Mas, além dessa possibilidade