O velhinho do guarda chuva
Série Contos
Introdução
Naquela chuvosa tarde do verão carioca, o calor judiava de nós e fazia com que todos procurassem a praia na ilusória esperança de que a brisa marítima atenuasse o mormaço que a tudo e a todos sufocava, como se em chaleira fervente tivesse se transformado o dia naquele longínquo dezembro, no Rio de Janeiro da minha juventude.
Mais uma vez deixei-me ficar, preguiçoso, naquela lerdeza da fila do guichê, onde se lia “Registrado”, à espera de ser atendido pela simpática funcionária, que sempre tinha um alegre sorriso em seus lábios, o qual se abria às escâncaras assim que seus olhos batiam em minha pessoa...
A Agência dos Correios e Telégrafos ficava na Rua Barata Ribeiro, em frente à Praça Serzedelo Correia, no posto três em Copacabana.
Todo sábado, impreterivelmente, eu me via em frente àquele guichê, predestinado a enviar mais uma daquelas quilométricas cartas escritas a meus saudosos pais, estes então residindo em Mato Grosso (antes da divisão).
Gostava muito de escrever a meus progenitores. Sempre escrevia. Aquelas cartas eram o monólogo e o diálogo da minha existência de jovem adolescente. Sim, monólogo porque, muito tímido e arredio, não arriscava conversa com os outros colegas, nem com outras pessoas, e assim me compensava por meio da íntima, solitária e silenciosa corrida da caneta no papel; diálogo porque, não tendo facilidade para conversar, estabelecia com meus pais naquele vaivém interminável de cartas, um diálogo permanente e ao mesmo tempo inofensivo, pudera: não havia presença física. À distância, eu me sentia confortável. Eu era assim: seguro por fora, frágil embarcação por dentro...
Muitos funcionários ali já me conheciam – o fogoso e atlético (apesar de baixinho) cadete-aluno do Colégio Militar – e essa familiaridade me fazia bem.
Lá fora a chuva, ainda que fina, insistia, bolinando com o fim de semana do carioca. Claro, ela não conseguia atenuar o exasperante calor.
Era o ano de 1963.