O social e suas vicissitudes na psicanálise lacaniana*
p. 2563). A articulação entre o inconsciente e o social é solucionada por uma localização hierárquica. A civilização decorreria do mesmo processo de constituição do inconsciente (cf. Freud, [1913] 1981e), hipótese que não poupa problemas à sua fundamentação. Isto porque, diante de uma hipótese como esta, não restaria à psicanálise menos do que demonstrar a existência do inconsciente e provar seu primado em relação à história e aos fenômenos sociais de modo geral. Freud havia abandonado cedo o projeto de demonstrar cientificamente a existência do inconsciente (cf.
Freud, [1895] 1981a), de modo a defender uma objetividade apreensível indiretamente pela proposição indutiva dos conceitos, cuja validação teórica
* Este artigo tomou como base o segundo capítulo da minha tese de doutorado, O poder como linguagem e vida: formalismo normativo e irrealidade social, desenvolvida no Curso de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de
São Paulo e defendida em agosto de 2010.
** A data entre colchetes refere-se à edição original da obra. Ela é indicada na primeira vez que a obra é citada. Nas demais indicase somente a edição utilizada pelo autor. (N.E.)
138 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 23, n. 1
O social e suas vicissitudes na psicanálise lacaniana, pp. 137-165 seria feita pela observação clínica (cf. Freud, [1915] 1981f, [1916-1917]
1981h). Inicialmente uma “ciência da interpretação”, a psicanálise tornarase, com a descoberta da “pulsão de morte”, um saber que depende de uma articulação entre a prática clínica e o caráter quase transcendental de seus conceitos e categorias metapsicológicas (cf. Freud, [1920] 1981j, pp. 2514-
2523), premissa já antecipada por Freud em suas recomendações técnicas,
aparentemente