O ser

Cai, cai a noite com seu manto de apagão. Dorme o estúpido e o invalido. Dorme você e eu também. Vem o choro, o sonho tosco. O sobressalto e o espasmo. O vômito do Universo. A náusea da paz. Nada além de um céu rodando entre o infinito. E um retrato que se perderá. E a imagem gasta que nunca ninguém saberá da existência. A inaptidão dos sentidos. O crivo da bala. A mala, a estação, a construção e a música. O choque e a bomba. A meretriz e a gueixa. A minha e a tua. Os astros e o animal são dados perdidos. Vórtice da loucura. Sufoco de biofobia derramada. Cobra coral. Muralha da aparência. Desconstrução do castelo metafísico. Por onde ando quando não houver por onde andar. Quem serei eu daqui a milênios de um tempo inventado, acordado e atrelado a mim uma odalisca andróide.
Um jônio que, não sei de Mileto ou de Éfeso, me oferta uma atávica ideia. Quando no muito deveria ocorrer-lhe que entre os mortos, nada pulsa. Nem o Deus se debate entre solavancos, pois não é.
Piscina, esgoto, robô e máquina do tempo. Abstrações daquilo que não existe mais. Tudo está desfeito. Não há relato nem memória.
Enfim, O manto da noite caiu.
O corvo abateu. O negrinho sumiu. E o branco faliu.
Nem discos voadores. Nem outros planetas habitados. Não há Universo. Alienígena algum. Se orbitam, orbitam e só. Ninguém os sabe. Nem eles a nós, como não os sabemos também, pois não somos. E se nos sabem, ainda assim permanecemos os mesmos.
Insuficiência dos Álamos, perecidos quais todos os outros todos.
Perda e vertigem, vertigem e perda, perda e vertigem, vertigem e medo.
Vazio.
Silêncio.
Caiu a última luz.
Tudo está