O samurai ocidental – a era meiji e a cultura pop do séc. xxi

O Samurai Ocidental – A Era Meiji e a cultura pop do séc. XXI

João Lima Arantes

Harmonia, autoconhecimento, equilíbrio entre o corpo e a mente. Características comumente associadas a um modo de viver tipicamente japonês, aliadas a hábitos um tanto estranhos à cultura ocidental, ajudaram a promover uma idéia estereotipada do Japão: a de um povo cercado de mistérios, de costumes exóticos e radicalmente opostos aos do resto de mundo. O patamar econômico alcançado pelo Japão dentro da dinâmica de um mundo globalizado promoveu uma ampla e repentina exportação da cultura popular japonesa, através da literatura, do cinema e das artes. Há de se refletir, no entanto, quanto dessa cultura que assimilamos não carrega de influência ocidental. O mito de uma nação que, após séculos de isolamento, apresenta-se ao mundo como uma sociedade pura, de tradições intocadas, parece não se sustentar. O intuito, portanto é, através de um breve resumo de sua história, enfocando a era Meiji, desconstruir uma perspectiva orientalizante do mundo, e enunciar a dialética estabelecida pela interação entre o Japão e o ocidente. Em seu passado remoto o Japão se constrói sob o signo do xintoísmo, religião cujos alicerces estão na interiorização do ser. As festas e diversões eram restritas, características que se aprofundam com a lenta inserção do Budismo no Japão nos últimos dois milênios e a contribuição dos preceitos filosóficos deste para as mencionadas estruturas sociais. Tal arcabouço cultural constitui talvez a principal base sob a qual se constitui a rígida estratificação social japonesa. É esta dinâmica social inflexível, ou mesmo imutável, que se verifica no Japão no início do período ora estudado, qual seja o início da década de 1860. Há ainda que se ter em mente a relativa contribuição do cristianismo propagado no oriente pelos portugueses a partir do século XVI, que nos permite estabelecer uma espécie de contraponto comparativo, refletindo a interiorização própria do