O que é esclarecimento?
No movimento conceitual proposto pelo autor, o primeiro conceito chave a surgir é o de “menoridade”, que pode ser entendido como a ausência do gesto de tomada de responsabilidade sobre seus juízos. Ele é importante na medida em que serve como baliza para outros conceitos que surgem no desenrolar do texto, incluindo, logicamente, a própria ideia de esclarecimento, mas primeiro por conter em si as noções de preguiça e covardia, causadoras da menoridade e os principais instrumentos dos tutores, também menores, e, consequentemente, agentes de propagação e reprodução de preconceitos, no seu trabalho de manter seus tutelados na obscuridade – posição também nascida de sua própria condição de ser humano ainda menor.
Percebe-se, então, que não há saída possível da menoridade que não passe pela libertação da razão, o que Kant chama de “uso público da razão”. Contudo, isso não pressupõe o uso desordenado de seu juízo, na medida em que esse conceito se contrapõe ao de “uso privado da razão”. Explico: o esclarecimento é um processo paulatino e ordenado, dependente das estruturas da comunidade, por isso se faz necessário que seu juízo também o seja, pois só dessa forma é dado a todos o direito de deliberar acerca do assunto proposto. Justamente por isso, cabe dizer que o esclarecimento é um direito humano e constitui crime qualquer tentativa de limitá-lo, o que, por sua vez, torna infrutíferas as revoluções, visto que são apenas substituições de preconceitos, e legitima a ordem oriunda da posteridade dos juízos.
Torna-se simples compreender a hierarquização proposta por Kant no tocante às religiões e legislações quando analisadas por esse prisma. Não há nada que