O problema do mal em hannah arendt por nádia souki
Resumo: Nesta reflexão serão apresentados três momentos paradigmáticos da evolução na concepção de mal na obra de Hannah Arendt. Em um primeiro momento, ela se refere ao mal radical” em Origens do Totalitarismo (1951). No segundo, ela inaugura o termo balidade do mal”, no contexto do julgamento do criminoso de guerra Adolf Eichmann em Jerusalém (1963), e, no último, retoma a concepção de “banalidade do mal”, articulando-a com a de “vazio de pensamento”, em A vida do Espírito (1975). Serão examinados o nascimento do termo, seu contexto histórico, suas implicações ao nível político e a polêmica levantada em torno de sua originalidade. Finalmemente, avalio a atualidade das formulações de Hannah Arendt acerca de "banalidade do mal". Palavras-chave: Hannah Arendt, mal-radical, banalidade do mal, vazio de pensamento. Pensar sobre o mal não constitui uma tarefa fácil e muito menos confortável ou prazerosa, ao contrário, representa um desafio ao pensamento e à filosofia. Muitos estudiosos têm preferido investigar temas que bordejam o tema do mal, derivados ou paralelos, como o da violência, o da corrupção, o da perversão, o da destrutividade, entre outros, do que chegar à intimidade desconcertante da realidade do que chamamos de mal. Outra saída é considerar o mal como um enigma e, nessa via, evitá-lo ou remetê-lo ao “buraco negro” do mistério e do insondável. Mas o fato de ignorá-lo, deslocá-lo de seu estatuto real ou expurgá-lo do pensamento não o esconjura, nem tampouco o retira do universo dos problemas humanos. É exatamente esse caráter enigmático do mal que pode representar uma provocação para que o pensemos melhor ou de forma diferente. Segundo Paul Ricoeur1, o que fornece o caráter enigmático ao mal, pelo menos na tradição judaico-cristã do Ocidente, é a tendência de se colocar, em uma primeira *
Psicanalista e Doutora em Filosofia pela UFMG. Professora na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia -
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