o principe

Capítulo 2

Ao receber a visita de sua visinha Sra. Parsons pedindo-lhe ajuda com seu encanamento, lembrou-se que acabara de usar o termo errado por que ninguém poderia ser chamado de “Sr.” ou “Sra.” de forma alguma. Esse termo era antipatizado pelo Partido, todos deviam chamar uns aos outros de “camarada”, pois “Sr.” era apenas O GRANDE IRMÃO.
Atendendo ao pedido de ajuda da visinha, foi até sua residência e reparou o quão frágil estava a casa da senhora. Inúmeras goteiras, encanamento antiquadro, teto e paredes despedaçando e vários pequenos consertos por todos os cômodos. Explicou aos leitores que para fazer uma simples troca de vidraça com uma pessoa especializada poderia demorar até dois anos, pois precisaria ser autorizado por comitês inacessíveis, por isso cada um dava o jeito que podia para fazer alguns reparos.
Sr. e Sra. Parsons tinham dois filhos, um menino e uma menina, que adoravam O GRADE IRMÃO e se vestiam como Espiões para o Partido. Agiam como reais “heróis mirins” como aprendiam lendo a revistinha do pequeno bisbilhoteiro que denunciaria até os próprios pais à Policia das ideias se ouvisse algum comentário comprometedor. Tão apavorante era ver aquelas crianças terem tamanha raiva de traidores do Partido, que chegava a ser natural que as pessoas com mais de trinta anos temessem os próprios filhos.
Ao voltar para casa, tornou a pensar em O’Brien e recordou de um sonho que teve uns sete anos antes em que uma voz muito semelhante á de O’Brien dizia “Ainda nos encontraremos no lugar onde não há escuridão”. Foi uma frase dita de forma tranquila e despreocupada, como uma afirmação e não uma ordem. Mas desde aquele olhar pela manhã não saberia dizer ao certo se O’Brien era amigo ou inimigo.
A teletela anuncia com glória mais uma vitoria com um número elevadíssimo de soldados inimigos mortos ou feitos prisioneiro e que a guerra continuaria ocorrendo. Em seguida soltou o hino para ouvi-lo em posição de sentido enquanto em algum lugar ao longe uma