O papel da indústria automobilística no capitalismo moderno
O mundo, a partir do século XX, começou a experimentar algumas da mudanças que deram início ao rearranjo social, político e econômico que culminou no capitalismo moderno vigente nos dias de hoje. Esse rearranjo gerou mudanças drásticas nos processos de produção das sociedades modernas, que tiveram na divisão e modernização do trabalho a força motriz de um novo modelo produtivo que redefiniu a cultura ocidental. Os Estados Unidos da América lideravam esse movimento; a proliferação das linhas de montagem e a adesão ao Taylorismo impulsionavam a produtividade à níveis sem precedentes. Trabalhadores viam sua renda e padrão de vida aumentar junto com a produção mecanizada, e empresas de menor porte davam lugar à grandes oligopólios industriais que se beneficiavam de crescentes economias de escala para fomentar a produção e o consumo.
Anúncio do Ford T: mais de 15 milhões de unidades foram vendidas
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Um dos símbolos mais característicos dessa nova era foi, inquestionavelmente, o automóvel. A produção automobilística, de acordo com Jeffry Frieden, concedeu “uma mobilidade individual nunca antes vista, [livrando] os cidadãos das desvantagens dos transportes públicos, assim como certa vez as ferrovias os livraram da tirania dos transportes aquáticos.” Mais uma vez, era nos Estados Unidos onde a ascensão da indústria de automóveis se dava com maior ênfase. Em contraste com a Europa, que aderiu mais tardiamente ao modelo de produção em massa e possuía menor mercado doméstico, os Estados Unidos em 1921 já possuía uma frota em circulação de 10 milhões de carros, uma proporção de dez veículos para cada europeu. A compensação pelo trabalho repetitivo nas linhas de montagem para o trabalhador americano era notória – em 1922 um trabalhador bem remunerado precisava de apenas dez semanas de salário para conseguir