O estranho familiar

O estranho familiar

Freud, no seu ensaio sobre o estranho escrito em 1919, traz considerações sobre o conto “O homem de areia”. Assim, como a namorada Clara que faz a interpretação na carta que manda a Natanael sobre o que poderia estar ocorrendo com ele, Freud também levanta hipóteses que trazem à discussão a figura do estranho. No começo de seus escritos sobre o tema, aponta o estranho como sendo aquilo que é assustador, o que provoca medo e horror. Mas de forma alguma o estranho se classifica como algo desconhecido, e sim como algo conhecido e familiar. Freud traz a palavra alemã unheimlich, oposto ao termo heimlich (doméstico) que nos leva a pensar que o estranho é algo não familiar. Mas podemos a partir da observação das crianças, quando defrontadas com algo novo, não sentirem medo, desconstruindo a idéia de que algo estranho é algo desconhecido. Quando estamos sentindo estranheza é a incerteza intelectual a que somos levados, algo que não se sabe como abordar que nos remete ao medo. Freud volta à palavra unheimlich para esclarecer o significado dela, qual seja, “é o nome de tudo que deveria ter permanecido secreto e oculto, mas veio a luz”(Freud, 1919). Freud a partir dessa análise começa a expor suas impressões sobre o Conto de Hoffmann. Um diretor de cinema contemporâneo, que utilizou estilisticamente a mesma técnica que este escritor, foi François Ozon, no filme intitulado “Swimming pool” que conta a história de uma autora sofrendo com sua falta de criatividade. Ela vai para uma casa de campo emprestada por seu chefe e amante, e vivencia situações com a filha deste chefe. Entretanto a medida que o filme traz elementos começamos a perceber que algo de não real está vívido nas impressões e narrativas da escritora. Assim como Discurso de Natanael, que nos confunde e nos leva a uma sensação de perplexidade ao desvendar algumas questões.
Podemos dizer, a partir do ensaio de Freud e da análise do conto, que Natanael sofria de uma psicose que teve como