O duque do desconforto
O executivo polêmico que fez de uma pequena aérea regional a maior companhia de baixo custo da Europa
Felix Gillette, Bloomberg Businessweek
"Por que cada avião precisa ter dois pilotos?", pergunta Michael O ' Leary, CEO da Ryanair, maior empresa aérea de baixo custo da Europa. Em sua sala na sede da companhia, marcada pela simplicidade, nos arredores do aeroporto de Dublin, O ' Leary propaga seu sermão, de tênis, jeans e camiseta.
"Sério, só se precisa de um piloto", prossegue. "Vamos tirar o segundo piloto. Deixemos a droga do computador pilotá-lo." Mas e se o piloto tiver um ataque cardíaco? Uma das integrantes da tripulação de cada voo da Ryanair seria treinada para aterrissar o avião. "Se o piloto tiver uma emergência, ele dá o aviso e a chama", diz O ' Leary.
De tempos em tempos, O ' Leary, de 49 anos, solta declarações assim - ideias provocadoras sobre como tornar as viagens mais baratas. É fácil menosprezar seus comentários como desvarios calculados de um caçador de manchetes, mas fazê-lo seria perder a chance de vislumbrar a psique do setor aéreo, normalmente escondida atrás de uma falange de rostos sorridentes. Em momentos como esse - ou alguns posteriores, como quando O ' Leary explica como gostaria de ver banheiros pagos e áreas com passageiros em pé em todos seus voos - ele dá voz aos instintos mais primitivos de sobrevivência do setor. Ele é o "id" da aviação.
Se os tempos fossem exuberantes, as empresas rivais poderiam se dar ao luxo de ignorá-lo. Nos últimos anos, com grande parte do setor em busca de saídas para sobreviver, a visão subversiva de O ' Leary parece uma alternativa cada vez mais viável ao status quo, ameaçado pela obsolescência, esgotamento e fusões. Ele diz o que os outros pensam e, com frequência, fazem.
Hoje qualquer voo comercial pode deixar você com a impressão de que as empresas o consideram como gado. A diferença é que O ' Leary pode chamar você de gado e explicar como