O Círculo antropológico, de Michel Foucault

2091 palavras 9 páginas
A loucura, no fundo, só era possível na medida em que, à sua volta, havia espaço que permitia ao sujeito falar, na linguagem de sua própria loucura e constituir-se como louco. Liberdade fundamental do louco que Sauvages chamava, "o pouco cuidado que temos ao procurar a verdade e ao cultivar nosso juízo" .
A liberdade que o internamento dava ao indivíduo era o Libertando das tarefas infinitas e das consequências , de sua responsabilidade, ela não o coloca, nem de longe, num meio neutralizado.
A liberdade do louco só existe nesse instante e nessa distância que o tornam livre para abandonar sua liberdade e acorrentar-se à sua loucura.
Na experiência clássica, a loucura pode ser ao mesmo tempo um pouco criminosa, um pouco fingida, um pouco imoral, um pouco razoável, também. O que se tem aí não é uma confusão no pensamento, ou um grau menor de elaboração; é apenas o efeito lógico de uma estrutura coerente: a loucura só é possível a partir de um momento bem distante, mas muito necessário, em que ela se arranca a si mesma no espaço livre de sua não- verdade, constituindo-se com isso como verdade. É exatamente nesse ponto que a operação de Pinel e Tuke se insere na experiência clássica. Essa liberdade, horizonte constante dos conceitos e práticas, exigência que se ocultava a si mesma e se abolia como num próprio movimento seu, essa liberdade ambígua que estava no âmago da existência do louco, agora é reclamada nos fatos, como quadro da sua vida real e como elemento necessário ao aparecimento de sua verdade de louco. Mas no momento em que se acredita apreendê-la, só se via a ironia das contradições:
— permite-se que a liberdade do louco atue, mas num espaço mais fechado, mais rígido, menos livre que aquele, sempre um pouco indeciso, do internamento;
— liberam-no de seu parentesco com o crime e o mal, mas para fechá-lo nos mecanismos rigorosos de um determinismo. Ele só é inteiramente inocente no absoluto de uma não -liberdade;
— retiram-se as correntes

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