O cotidiano

O COTIDIANO

Para o estudo do conceito de Cotidiano é importante que saibamos que suas definições demandam determinadas concepções de história. Temos visto em nosso Guia, essencialmente, duas, a saber, a concepção tradicional de história, estabelecida no século XIX, tributária do positivismo, e a nova concepção de história ou Nova história, tributária da “Escola dos Annales”, fundada por Marc Bloch e Lucien Febvre em 1929.
A História tradicional entende Cotidiano apenas como mero lugar da realização e da repetição dos acontecimentos ordinários da vida social, portanto, sem nenhuma importância aos estudos históricos. Nessa esteira, a História tradicional não confere o protagonismo do desenvolvimento do processo histórico aos indivíduos, grupos e/ou atores “comuns”, isto é, às mulheres, aos “marginais”, às crianças, aos “loucos” etc., personagens que, certamente, compõem a cena do cotidiano e da história. Para a História tradicional apenas os acontecimentos e os indivíduos extraordinários como Stálin, o Papa, César, Metternich, etc., operam as grandes realizações históricas, sejam elas religiosas, políticas, diplomáticas, militares, enfim. Portanto, apenas estas e aqueles são dignos do interesse do historiador.
Para a Nova história, ao contrário, o cotidiano deixa ser entendido e visto como simples lugar da efetivação do mesmo, daquilo que acontece no dia-a-dia, para atingir um status de lugar prenhe de importantes tomadas de decisões e de realizações dos indivíduos, grupos e /ou atores que elaboram estratégias de vida/sobrevivência, de resistência, de organização e de reinvenção de suas mais variadas atividades. Estas, por sua vez, têm impacto e, portanto, significado relevantes para o desenvolvimento da vida social e do processo histórico. Muito além de ministros, reis e generais e do cotidiano entendido como simples palco do desenrolar da ação extraordinária dos “heróis”, a Nova história, por exemplo, a historiografia revisionista da Revolução Francesa