A RELIGIOSIDADE POPULAR EM PATATIVA DO ASSARÉ: RESÍDUOS MEDIEVAIS NA OBRA CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ

4417 palavras 18 páginas
A RELIGIOSIDADE POPULAR EM PATATIVA DO ASSARÉ: RESÍDUOS MEDIEVAIS NA OBRA CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ
Maria Laudecy Ferreira de Carvalho
Universidade Federal do Ceará

1. Introdução

Mostraremos neste trabalho as relações existentes entre a Idade Média e a religiosidade popular do Nordeste do Brasil encontráveis na obra Cante lá que eu Canto cá, do poeta Patativa do Assaré. Embora não tenhamos tido cronologicamente uma Idade Média, recebemos dela uma herança significativa para a formação da nossa cultura. Desse modo, analisaremos os poemas “No meu Sertão”, “A Festa da Natureza”, “O Inferno, o Purgatório e o Paraíso”, e “Eu e o Sertão”, e, compreender como se manifesta a religiosidade popular na obra citada, identificando as remanescências medievais presentes em cada um dos textos desses poemas.
2. A religiosidade Segundo J. Maraschin (1984), muitas camadas sociais excluídas do ter, do poder e do saber, celebram a vida com suas lutas e vitórias, através de rituais, atos de culto, peregrinações e festas próprias. Pode-se dizer que, de certo modo, a religiosidade popular é a maneira de ver e viver a religião.
Segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, religião é:
(I) crença na existência de um poder ou princípio superior, sobrenatural, do qual depende o destino do ser humano e ao qual se deve respeito e obediência; (II) sistema de doutrinas, crenças e práticas rituais próprias de um grupo social, estabelecido segundo uma determinada concepção de divindade e da sua relação com o homem; fé, culto (HOUAISS, 2001).
A experiência religiosa se nutre de horizontes utópicos que os olhos não viram e que só podem ser contemplados pela imaginação. Deus e o sentido da vida são ausências, realidades por que se anseiam dádivas da esperança, da fé. De fato, talvez seja esta a grande marca da religião: a esperança, a fé. E talvez possamos afirmar, com Ernest Bloch (2005,p.28): “onde está a esperança ali também está a religião”.
Em seu livro O que é religião,

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