A prostituição, a cidade e suas falas

2596 palavras 11 páginas
A prostituição, a cidade e suas falas[1]

Juliana Cavilha (BIEV/UFRGS)

jcavilha@yahoo.com.br

Esta comunicação é resultado de parte da pesquisa de doutorado, defendida em 2010 no programa de pós graduação em Antropologia Social na UFSC. Nesta pesquisa investiguei a construção de práticas sexuais na conformação da paisagem urbana, a partir de um estudo etnográfico com mulheres profissionais do sexo nas regiões centrais da cidade de Florianópolis/SC.
Aqui me propus a discutir a cidade a partir das narrativas biográficas destas mulheres, e procurarei enfatizar a forma como a cidade moderno-contemporânea participa de suas aprendizagens neste ofício.

Introdução[2]

Essa minha cunhada que era amante dele (o irmão), aí ela me ensinou, falou como era, que era a noite e era só para dançar e para beber. Ela disse se tu quiser beber gua raná, tu podes beber guaraná! Se tu quiser beber bebida tu podes beber, até que eu caí no whisky. Na primeira noite eu tomei um litro de whisky. Peguei aqueles de Laranjeiras do Sul/PR, aqueles da grana mesmo, usava só facão e revólver, um de cada lado. Eu nunca esqueço, ele perguntou para mim o que quê eu bebia, eu disse que tomava guaraná, ele disse assim: “Puta, vagabunda, toma é whisky, bota na mesa um litro de whisky aí porque ela vai tomar!” antigamente as profissionais tinham que fazer o que os homens queriam, hoje em dia não! (Márcia. Extrato de entrevista, 2007.)

Conheci Márcia como membro atuante do Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS, GAPA, no início de uma pesquisa que coordenei sobre doenças sexualmente transmissíveis no ano de 2002.
Márcia tem 58 anos e construiu sua carreira, como profissional do sexo[3], em boates e prostíbulos durante quase 30 anos.
Com ela realizo onze entrevistas formais, todas gravadas, dentro e fora da ONG/GAPA, e visito, também, seu antigo local de trabalho, onde atuou como profissional por mais de sete anos. Na época, o GAPA firmava-se como um importante espaço de sociabilidade

Relacionados

  • Luciola
    8945 palavras | 36 páginas
  • Prostituição infantil
    2465 palavras | 10 páginas
  • Migração
    3316 palavras | 14 páginas
  • Prostituição infantil
    532 palavras | 3 páginas
  • prostituição
    851 palavras | 4 páginas
  • Prostituição
    29485 palavras | 118 páginas
  • Prostituicao
    5496 palavras | 22 páginas
  • Trabalhadores do sexo: limites e possibilidades para a educação em saúde
    7368 palavras | 30 páginas
  • A casa caiu
    2121 palavras | 9 páginas
  • Delinquência juvenil
    1540 palavras | 7 páginas