A presença créole entre os ameríndios palikur na fronteira brasil/guiana francesa

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33º Encontro Anual da Anpocs GT 19: Entre Fronteiras e disciplinas: Estudos sobre África e Caribe

A presença créole entre os ameríndios Palikur na fronteira Brasil/Guiana francesa

Artionka Capiberibe

Caxambu/2009

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Esta comunicação se propõe a introduzir, a partir de uma realidade amazônica e ameríndia, uma discussão que pode encontrar afinidade com outras realidades locais do Caribe e do mundo africano, onde se fazem presentes línguas francas. Tratar-se-á aqui de mostrar como os Palikur, população indígena que vive nos dois lados da fronteira entre o Brasil e a Guiana francesa, entendem a inserção em sua socialidade do créole, uma língua proveniente do francês, forjada na rede de relações que interligava: colonos franceses, escravos de origem africana e os índios da região. Apesar de a Guiana francesa ter como língua oficial o francês, é o créole a língua, por excelência, de comunicação entre os mais diversos habitantes deste departamento francês 1 situado na América do Sul. Mas, se é fácil notar que esta língua é o principal elo de ligação entre as diferentes populações - ou, como dizem os Palikur, as diferentes “gentes” - que habitam a região, torna-se um pouco mais complicado apreender os múltiplos significados que ela pode alcançar para cada uma destas “gentes” as quais põe em conexão. Aproprio-me aqui do termo “gente”2 - modo como os Palikur denominam a diversidade de habitantes do cosmos, sejam eles humanos, animais ou espíritos (de animais, de mortos ou seres de configuração a priori espiritual, como certos monstros) – por entender que o uso desta concepção é mais apropriado para o caso aqui tratado, por conter, ao mesmo tempo, a idéia de um cosmos subdividido formado de “gentes” diferentes, mas, onde as unidades componentes não estão isoladas umas das outras por barreiras impermeáveis. As relações dos Palikur com os outros habitantes do cosmos são marcadas por uma abertura, um caminhar em direção à alteridade, abertura presente entre os

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