A onda
Na experiência pedagógica daquele professor tudo começou com gestos simples, o levantar e o sentar, o estar sentado direito e de pés juntos. O passo seguinte, não menos decisivo, foi a escolha de um uniforme, porque o uniforme não é apenas um símbolo de identidade do grupo. Muito mais do que isso, no fascismo o uniforme era uma máscara que ocultava as diferenças sociais.
Com um uniforme estabelecido, era necessária a escolha de uma saudação, outro elemento ritual para a identificação do grupo e a saudação acabou por ser um gesto de braço reproduzindo o movimento de uma onda.
Uniforme, saudação, rituais, disciplina de massas, este conjunto excluiu todo o resto. As aulas deixaram de ser − ou de pretender ser − a transmissão ou a partilha de um conhecimento e converteram-se na mera afirmação da identidade do grupo. Houve a eliminação da vida privada. Não só a vida privada, aliás, mas todos os tipos de existência que ultrapassassem os limites do grupo. Ao que pude compreender, o conjunto denominado A Onda não tinha vias de saída, nem sociais nem mentais. A redução da existência a uma perspectiva única, isto é, o totalitarismo, e o apelo aos sentimentos é aqui um dos procedimentos mais eficazes. Lealdade, afeto, devoção, nada disto podia ser gasto com namoradas ou com colegas, mas apenas com o grupo ou com as pessoas enquanto membros do grupo. A confusão do político com o afetivo, que ameaça todos os grupos, constitui o grande risco do totalitarismo, tanto mais perigoso quanto é a sedução da