A música e o desenvolvimento no início da vida
Revista eletrônica de musicologia
Volume IX - Outubro de 2005 home . sobre . editores . números . submissões . versão em pdf
A música e o desenvolvimento da mente no início da vida: investigação, fatos e mitos
Beatriz Ilari (UFPR)
Resumo: O objetivo deste artigo é discutir os efeitos de transferência cognitiva entre a música e outros contextos e áreas do conhecimento. Especificamente, o artigo trata de quatro relações de causa e efeito que envolvem a música (inteligência, matemática, linguagem e leitura) e discute suas implicações para a educação musical brasileira e para o desenvolvimento musical como um todo.
O interesse pelo desenvolvimento cognitivo-musical tem crescido substancialmente nos últimos tempos. Descobertas recentes da neurociência, psicobiologia, psicologia do desenvolvimento, educação e psicologia da música vêm fomentando um interesse crescente acerca do desenvolvimento cognitivo-musical do ser humano.
Pesquisas recentes sugerem que John Locke (1632-1704) estava mesmo equivocado quando sugeriu que o ser humano vem ao mundo com a tabula rasa, e há inúmeras demonstrações empíricas das competências cognitivas do recém-nascido (veja Eliot,
1999). Durante a infância, o cérebro humano é mais maleável e os efeitos da aprendizagem são maiores que em qualquer outra fase da vida (Flohr, Miller &
Deebus, 2000). Isso também parece ser o caso do desenvolvimento auditivo. Como exemplo, sabe-se hoje que é no período entre o nascimento e o décimo aniversário que as distinções entre alturas, timbres e intensidades se desenvolvem e se tornam mais refinadas (Werner & Vandenbos, 1993). É também nesta época que as crianças desenvolvem suas preferências e memórias musicais (veja Ilari & Polka, no prelo; Trainor, 1996; Trehub & Schellenberg, 1995). O desenvolvimento cognitivomusical nesta época ocorre através de processos como impregnação e imitação
(Ilari & Majlis, 2002), e está normalmente associado a