A linguagem expressiva como objeto de estudo

A linguagem expressiva como objeto de estudo
Conforme assinala o autor na conclusão do livro, em Contribuição à Estilística Portuguesa, Mattoso Câmara pretende delimitar o conceito de estilo, situando-o metodicamente no âmbito da Linguística. Tendo em vista tal mister, o livro divide-se em duas partes: “O conceito da Estilística” e “Aspectos da Estilística Portuguesa”. Naquela, o autor oferece uma breve síntese histórica e crítica acerca do surgimento da Linguística como ciência autônoma e da Estilística como um de seus campos de estudo. Além disso, delimita, teoricamente, o conceito de estilo. Já na segunda parte, Mattoso apresenta alguns aspectos do estudo estilístico na Língua Portuguesa.
No que tange à primeira parte, Mattoso sinaliza que o surgimento de uma ciência da linguagem autônoma só foi possível após o entendimento de que a linguagem não é um fenômeno meramente físico-biológico, mas também e, sobretudo, psíquico. Há na linguagem um aspecto que se sobrepõe à emissão vocal: seu valor semiótico. Seria, pois, esse o verdadeiro elemento linguístico que dá autonomia à linguagem como ciência.
No entanto, como aponta Mattoso, a simples compreensão da linguagem como fenômeno psíquico não foi suficiente para resolver o problema da clarificação e da delimitação do assunto. Nesse aspecto, foi de suma importância o trabalho de Ferdinand Saussure. Concentrando-se no produto da linguagem (érgon, na nomenclatura de Humboldt), Saussure estabeleceu a dicotomia langue x parole, em que se evidenciam, respectivamente, dois aspectos da linguagem: o coletivo e o individual. Entendendo que a parole (discurso) é um conglomerado de fatos assistemáticos e que, por sua vez, a langue (língua) é um sistema organizado, Saussure elegeu esta como objeto de estudo. Todavia, como aponta Mattoso, embora a língua preexista ao indivíduo, sua sistematização por este não se trata de mera cópia, sendo resultado de escolhas individuais a partir do “modelo”. Nesse aspecto individual,