A indumentaria como fontehistórica: A mulher carioca

A indumentária feminina como fonte histórica, a Belle Époque parisiense e seus reflexos no
Rio de Janeiro do começo do século XX

Introdução

“Comecei a acreditar que a mágica da roupa está no fato de que ela nos recebe: recebe nosso cheiro, nosso suor; recebe até mesmo nossa forma. E quando nossos pais, os nossos amigos e os nossos amantes morrem, as roupas ainda ficam lá, penduradas em seus armários, sustentando seus gestos ao mesmo tempo confortadores e aterradores, tocando os vivos com os mortos.” (Stallybrass 2000:13)

Uma pergunta muito frequentemente realizada é como os historiadores podem saber de fatos que ocorreram há tanto tempo. A resposta encontra-se nas fontes históricas, ou documentos históricos, que são vestígios deixados ou produzidos pelo homem (ou que, pelo menos, tragam marcas de sua interferência) que permitem datar e compreender os acontecimentos de outrora. Ou seja, fontes históricas são “os documentos que permitem ao historiador recontar e interpretar os fatos passados e reconstruir a história".1 Quando nos deparamos com alguma fonte histórica, alguns aspectos devem ser considerados, como quem produziu aquela fonte, em qual época e circunstância, quais os seus aspectos culturais, qual o gênero da fonte, qual a sua mensagem. Tradicionalmente, entende-se por fonte histórica documentos textuais, tais como “crônicas, memórias, registros cartoriais, processos criminais, cartas legislativas, obras de literatura, correspondências públicas e privadas”2 etc. Todavia, podemos incluir como fontes históricas outros tipos de vestígios, materiais ou não, tais como a arquitetura de um prédio, utensílios de uso diário, as ruas de uma cidade, contos orais, lendas, armas, e representações pictóricas. Posteriormente, graças a Escola dos Annales, outro tipo de fonte histórica passou a ser considerada: a indumentária. A Escola dos Annales pode ser descrita como um movimento historiográfico de historiadores franceses que surgiu na